21 de abril de 2007

As fugas de Nina...1


Nina, tinha um ar descontraído, e quem a visse e conhecesse não poderia dizer que era tímida. Parecia que Nina tinha uma incrível facilidade em meter conversa com qualquer pessoa e adorava fazer os outros sorrir. Na verdade, ela achava que esse era o melhor remédio para si e para os outros. No entanto, Nina, tinha uma limitação.
Tinha medo dos homens. Quem a visse não acreditaria. Esse medo não era infundado. Há anos, tinha sido casada com um homem que não a tratara nada bem (Nina foi mais uma das inúmeras vítimas de violência doméstica no nosso país). Dessa relação, nasceu uma criança, que era, acima de tudo, a sua razão de viver e lhe conferia força para encarar, com optimismo, as dificuldades que, diariamente, se lhe deparavam.

Tinham-se passado 7 anos desde que se separara e, desde então, nenhum homem lhe havia despertado intensa curiosidade. Nina, actualmente, nem se esforçava por prestar atenção ou se mostrar disponível. Durante os últimos anos, ainda tentou uma relação com uma pessoa que achou ter bom íntimo mas era mesmo um grande esforço e, ao fim de seis meses, tudo acabou por desinteresse comum.

No entanto, Nina há uns dois, ou três anos, havia reparado, por mero acaso, num simpático sorriso atrás do balcão onde ia, de vez em quando, tomar o seu café quando estava de férias. Não ligou, nem deu importância mas com o passar dos anos e inúmeros cafés tomados, foi olhando melhor, reparando, conversando e…começou a sentir algum fascínio pela figura que se desdobrava entre o seu café, as aulas (era professor) e, mesmo sendo uns 7 anos mais velho, usava um aparelho nos dentes que lhe conferia um charme adicional – pelo menos assim viam os olhos de Nina. Tinha um ar de miúdo crescido que a fascinava.
Nina começou a sentir-se tocada pela forma como ele falava com seu filho sobre matérias de interesse comum (desporto, música…). Sentia um certo rubor quando a via olhar mais atentamente para a sua pessoa. Era a primeira vez, em aos que Nina sentia atracção por um homem.
Na sua mais recente visita, em férias, reencontrou Carlos no seu café. Desta vez, foi ainda mais claro, para Nina, que aquele personagem a atraía de facto. Agravante, foi o facto dele se aproximar mais com conversa e notória disponibilidade para o seu filho. Num dos dias, Carlos pediu-lhe o mail para que Nina o pudesse ajudar numa questão relacionada com o seu trabalho. Nina deu-lho mas sem esperança que pudesse querer o seu e-mail para algo mais que isso mesmo.
Logo no seu primeiro dia de trabalho, Nina verificou que tinha um mail de Carlos. Ele, perguntava-lhe se tinha chegado bem, pelo se filho e enviava matéria para que o miúdo se entretece com links de consulta na Internet, etc. Nina, surpreendida, respondeu a agradecer e mais não esperou. Ela estava num estado emocional de auto protecção e terrivelmente assustada, com o facto de se estar a aproximar, involuntariamente, de alguém que a atraía.
Na mesma medida, que as trocas de mail se intensificavam, também aumentava a ansiedade de Nina. A base de assunto era sempre o Nico, seu filho, e ela não sabia como julgar o interesse manifestado por Carlos. Estaria ele interessado simplesmente em Nico por este ser, de facto, uma criança com piada? Ou estaria Carlos a utilizar Nico, como assunto, para se aproximar de Nina? Ela não sabia! Nina, em determinada fase, disse a Carlos que, quando voltasse para férias, logo falariam sobre Nico. Nina, estava a tentar, assim, acabar com a perturbação que a punha a fazer “filmes” na sua cabeça e fazia bater, com mais força, o seu coração. Nina acreditava que se Carlos estivesse interessado em manter algum tipo de amizade com ela, por ela mesma, voltaria a comunicar. Caso contrário eclipsar-se-ia.

Nina era, sem dúvida uma medrosa. Da mesma forma que empurrava Carlos para fora dos seus pensamentos, vivia diariamente na esperança de receber notícias dele. Nina sentia falta do sorriso e da simpatia dele. No entanto, pouco sabia sobre o seu viver. Era química, era atracção e Nina andava apavorada. Ao fim de tantos anos só, esforçando-se diariamente por se concentrar somente no essencial de uma vida simples e sem sobressaltos, criando com muito esforço e dedicação o seu filho, Nina sentia-se fraquejar e cada vez mais solitária.
A sua extroversão começava a transformar-se agora numa estranha calma de quem quer controlar o incontrolável. Nina queria controlar o seu sentimento de solidão – o sentimento que Carlos lhe despertara quando atingiu a sua carapaça. Nina chorava, de noite, baixinho, para que Nico não percebesse, a sua tristeza. Nina já nem tinha assunto para alegrar suas colegas, evitava cruzar-se nos corredores e nem lhe apetecia sair do seu lugar.
Na verdade, ela nem sabia como proceder, como levar o seu dia a dia agora, que algo/ alguém lhe tinha derrubado a muralha, tão sólida, que tinha construído à sua volta.

Indício de uma nova fase na sua vida? Assim parecia mas, Nina sabia que, tal como um bebé, aprende a andar, teria que reaprender a viver com a crua verdade que provava que ela se poderia apaixonar, e ter sentimentos iguais às outras pessoas. Sobretudo, teria que aprender a lidar com sentimentos diferentes do amor materno, do amor pela família e seus amigos. E, o pior de tudo, teria que faze-lo sozinha.